sexta-feira, 14 de julho de 2017

Estou de saco cheio do "cidadão de bem"

Direto ao ponto: Estou de saco cheio.

Não aguento mais receber manifestações de pessoas sobre temas polêmicos, sem base técnica e com soluções simples para todos os problemas.

Por exemplo, as crescentes correntes e materiais circulando na internet defendendo a facilitação na compra de armas de fogo pelo cidadão se baseiam em um conceito muito estranho:

Querem colocar uma arma na mão de cada esquentadinho no trânsito; uma arma na mão de cada namorado ciumento; uma arma na mão de cada homofóbico agressivo e isso diminuirá os números da violência. Uau!!! Tudo sempre em nome da liberdade para o “cidadão de bem” se defender.

Nesse caso, “cidadão de bem” é um termo que é utilizado para separar as pessoas por castas. O típico “cidadão de bem” é sempre branco, heterossexual e pertencentes às classes média e alta.

O “cidadão de bem” envia correntes simplistas na internet porque acha que teoria é só “blá blá blá”, e as coisas devem funcionar na prática, lógico que desde que a prática esteja de acordo com seus princípios ideológicos. Por isso que o “cidadão de bem” não gosta de saber a opinião de professores, doutores, filósofos e historiadores. Considera isso perda de tempo.

O “cidadão de bem” reclama do que chama de indústria da multa, pensa que deve ter o direito individual de dirigir bêbado e correr nas vias públicas com seu automóvel, mesmo que isso coloque em risco a vida de outras pessoas. O “cidadão de bem” quer usar sozinho 10 metros quadrados das vias com seu potente automóvel e esbraveja se o poder público destinar um espaço ou dê qualquer prioridade para os usuários do transporte público coletivo, os quais utilizam 0,5 metro quadrado da mesma via cada um.

O “cidadão de bem” acha que os maiores problemas do país são o preço da gasolina e as más condições da rodovia que liga sua cidade ao litoral.

O “cidadão de bem” acha que não deve pagar impostos e que o estado deve ser diminuído, praticamente extinto, mas obviamente tem dinheiro suficiente para contratar saúde e educação privada para seus filhos.

O “cidadão de bem” se delicia quando a polícia invade favelas, atenta contra os direitos básicos das pessoas pobres e executa jovens negros. O “cidadão de bem” acha que direitos humanos são uma bobagem, mas logicamente nunca teve e nunca terá seus direitos mais básicos e fundamentais violados pela força do estado.

O “cidadão de bem” não se diz racista, mas é contra o sistema de cotas. Enche o peito pra falar em meritocracia, como se tivesse tido as mesmas condições de competição que as crianças subnutridas de áreas vulneráveis, agredidas e abandonadas pelo estado. O “cidadão de bem” acha perfeitamente normal que algumas crianças privilegiadas tenham acesso a um tipo de educação e outras acabem se obrigando a receber sua educação de um sistema público precário e abandonado.

O “cidadão de bem” compartilha vídeos do escroto do Danilo Gentili e acha genial.

O típico “cidadão de bem” é egoísta, intolerante e agressivo. Acha que seus direitos individuais estão acima dos direitos comuns. Tem um sentimento de superioridade sobre a “ralé”. Talvez até não seja “por maldade”, talvez a sua mente seja mesmo muito limitada, o deixando incapaz de enxergar a sociedade como a engrenagem complexa que é, incapaz de se colocar no lugar de outras pessoas, conseguindo enxergar apenas seus próprios problemas e enxergando a sociedade de uma maneira tão simples quanto um jogo de futebol: nós contra eles. Mesmo assim, estou de saco cheio.




quinta-feira, 18 de maio de 2017

“Ascensão e queda são dois lados da mesma moeda”




Depois da morte política definitiva do rato Michel Temer e do gangster Aécio Neves, me senti quase que obrigado a escrever alguma coisa, ainda mais depois de tantas manifestações aqui neste espaço sobre o tema.
Então acessei o blog do professor e historiador Juremir Machado e estava tudo lá, tudo escrito de forma sucinta, simples, direta, precisa. Poucas palavras, muito conteúdo.
Depois de ler o texto, entendi que não havia mais nada a ser dito e resolvi simplesmente reescrevê-lo abaixo, colocando em negrito os trechos que considero mais esclarecedores e importantes.


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Ascensão e queda de Temer


Era uma vez um país incapaz de aprender com o passado. Em 1954 e 1964, a imprensa e a direita (Carlos Lacerda e a UDN) manipularam a classe média, denunciando a corrupção, até, no primeiro caso, levarem Getúlio Vargas ao suicídio e, no segundo, Jango ao exílio. Em 2016, o PSDB (sucessor da UDN), a mídia e o PMDB de Michel Temer associaram-se para tomar o poder do PT e de Dilma Rousseff.

A narrativa é simples: cansado de perder eleições, o PSDB incentivou a chegada ao poder por um atalho. Por não poder ir direto ao pote, aliou-se ao PMDB, sempre pronto a qualquer coisa, e usou um pretexto jurídico capenga, as pedaladas fiscais, e o velho pretexto da corrupção, para puxar o tapete de Dilma.

A estratégia foi revelada pelo peemedebista Romero Jucá: primeiro tira Dilma, depois “estanca a sangria da Lava Jato”. Mas a Lava Jato continuou. Há muito que Aécio Neves vinha sendo denunciado na famosa Lista de Furnas, mas a mídia amiga fingia não ver. A seletividade poupava os tucanos. Temer para chegar ao poder prometera as reformas dos sonhos do mercado e da mídia parceira. Tinha imunidade.

A ponte para o futuro, chamada de pinguela por FHC, revelou-se um trampolim para o passado.


Reforma trabalhista e da Previdência capazes de abolir até a lei Áurea.

 
O vaso transbordou. Os delatores começaram a entregar tudo, até o que não deviam.


A própria Lava Jato viu-se ultrapassada pelos fatos. Ouvia o que queria e o que não queria.
Trabalhou-se com provas duvidosas, teoria do domínio do fato, tudo, até a volta das provas tradicionais.

As delações da JBS botaram Aécio e Temer no lamaçal com direito a etiqueta na testa.


As panelas, porém, não soaram como antes.

 
As ruas ainda não se encheram de verde-amarelo.


Acontece que boa parte do discurso contra a corrupção era só antipetismo.

O petismo fez por merecer seu inferno. Mas foi mais odiado pelos poucos acertos que teve.


O inverossímil da história é que alguém tenha acreditado que Temer e seu bando predador poderiam ser a saída moralizadora para o Brasil corrupto de Lula, Dilma e o PMDB do próprio Temer.
 
Por que o Brasil quis se enganar assim? Quem se pensava iludir?


Ou a luta de classes, pois é disso que se trata, justificava os meios empregados?

O governo de Temer acabou estrepitosamente.


O vampiresco Michel é um cadáver político apodrecendo no Planalto.


Será mantido em formol para ter tempo de entregar suas reformas?

Há quanto tempo os “blogs sujos” forneciam elementos ignorados para prisão da irmã de Aécio?
 
Há quanto tempo a imprensa internacional denuncia o golpe no Brasil?
 
Nos jornais globais o clima é de velório. Temer foi aposta midiática e mercadológica.

Uma conveniência suja para “limpar” o Brasil do seu atraso.

Um jogo de cartas marcadas que não contava com a delação de um trapaceiro.


A frase de Temer, “tem que manter isso, viu?”, para o interlocutor da JBS que o informava da mesada para que Eduardo Cunha não abrisse o bico entrará para a história da canalhice brasileira.

Este diálogo será estudado por anos como expressão do coronelismo tropical:

“Joesley: — Se for você pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança.

Aécio: Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho.”

Como ficam aqueles que diziam com orgulho: “Eu não votei no Temer…”

Ter votado em Aécio já não é um atestado de sabedoria moral



O Brasil está na frente do espelho: gangues em luta pelo controle do poder.













Link do blog do Juremir Machado: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Uma pizza do tamanho da Odebrecht?



Em resumo: O Ministro do STF Teori Zavascki prometeu para o início de 2017 a homologação das delações de executivos da Odebrecht, colhida pelas equipes da operação Lava a Jato, e a quebra do sigilo das mesmas assim fossem homologadas.

Mas, de repente, caiu o avião.

...


Não vou entrar no mérito da tragédia, mas sim do que aconteceu depois.

A Presidente do STF, Ministra Carmem Lúcia, resolve então homologar as delações, atendendo aos anseios da sociedade. Mas, estranhamente, também resolve manter o sigilo sobre as mesmas.

Ao todo são 77 delações homologadas prestadas pelos executivos da empresa. Em uma única delas, que vazou para a imprensa, o nome de Michel Temer aparece 43 vezes, além de nomes do primeiro escalão do governo, como Eliseu Padilha, Moreira Franco, José Yunes, Gilberto Kassab, José Serra, entre outros. Além disso, são citados nas delações quase 200 políticos de vários partidos políticos, incluindo, segundo fontes da imprensa, ex-presidentes, governadores e senadores. Ou seja, essas delações tem o poder de abalar a governabilidade, derrubar a atual governo e causar um grande alvoroço nos bastidores do poder.

Os processos seguiram para o Procurador Geral da República, Sr. Rodrigo Janot. Ele tem a possibilidade de solicitar ao STF a quebra do sigilo das delações. O próprio procurador há pouco tempo defendeu a imediata quebra do sigilo das delações após as homologações, citando que o povo brasileiro tinha o direito de saber o teor das mesmas.

Mas, ao receber os processos, ele mantém o sigilo dos mesmos, sem maiores explicações.


OPA!!!



Espero que meu olfato esteja muito enganado, mas já dá para sentir o cheiro de pizza no ar.


- A QUEM INTERESSA QUE O SIGILO DESSAS DELAÇÕES SEJA MANTIDO?


- Por que os “jornalistas”, analistas e “especialistas” da TV Globo e da GloboNews não estão implorando e esbravejando pelo fim desses sigilos? Apenas o Noblat, do Jornal “O Globo”, defendeu a quebra do sigilo e, ainda assim, bem timidamente em uma postagem de seu blog. O mesmo vale para os colunistas da Folha, Estadão e das revistas Veja, Época e Isto É. Desejo que a resposta para essa pergunta não esteja relacionado com o recente e significativo aumento de verbas publicitárias do Governo Federal para essas mídias citadas (http://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/01/governo-temer-recorde-gastos-publicidade.html) .

No Brasil, a grande mídia fazer algumas jogadas e o STF agir politicamente, ora para um lado ora para outro, definitivamente não deve impressionar a mais ninguém. O que eu realmente gostaria de saber, são as respostas para as seguintes perguntas:

- Por que os movimentos que organizaram manifestações recentes, que se diziam apolíticos e independentes, como o tal MBL por exemplo, não colocaram em suas mídias nem uma palavrinha sequer sobre a necessidade de quebra desses sigilos?

Esse mesmo movimento citado, que se intitula “das ruas e para as ruas” organizou uma manifestação recente em defesa da operação Lava a Jato, mas curiosamente o alvo do protesto não foi o Sr. Michel Temer, mas sim o Senador Renan Calheiros. Após tais protestos, o Senador foi afastado por um Ministro do STF. Posteriormente foi reconduzido ao cargo pelo pleno da Corte. Essa recondução ajudou de maneira muito efetiva o andamento da pauta de votações do Governo no Senado e “surpreendentemente” não gerou nenhum protesto desses grupos que antes se colocaram contra o tal Senador.

- Onde estão as manifestações ferrenhas solicitando a quebra do sigilo das delações dos executivos da Odebrecht? Imagino que esse seja o anseio de 99% da população brasileira.

Se não houver um clamor popular muito forte pela quebra desses sigilos, pode ser passada a impressão de que os movimentos e protestos recentes não tinham qualquer relação e intenção de combater a corrupção, mas que foram apenas movimentos políticos orquestrados visando derrubar o Governo anterior por interesses diversos.

A população do Brasil merece saber o teor de todas essas delações. As pessoas merecem saber a verdade. Merecemos que parem de nos tratar como idiotas.

A QUEBRA DESSES SIGILOS DEVE SER IMEDIATA , sob pena de que a operação Lava a Jato continue sendo usada apenas como instrumento de manipulação da opinião pública com fins políticos e não como um importante instrumento de combate à corrupção sistêmica de políticos e grandes empresários brasileiros.

Dessa vez, tenho convicção de que a imensa maioria das pessoas que está lendo esse texto concorda comigo, afinal, interessa a muito pouca gente que o sigilo dessas delações seja mantido.