quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Receita do dia: GOLPE À MODA DA CASA


Cansei de falar sobre política, esse assunto gera muitas discórdias. Então, vou abrir espaço aqui no blog para falar um pouco de culinária. 


Vou apresentar uma receita de um prato típico da América Latina, que vem sendo aperfeiçoado ao longo do tempo, mas cujo resultado final é basicamente sempre o mesmo. Esse prato é bastante tradicional e é servido há muitos e muitos anos no continente.

A receita abaixo é da versão moderna do “golpe à moda da casa”:

 
Esse prato é feito a base de um fruto chamado “não aceitação da democracia”, originário de uma árvore chamada “presunção de superioridade em relação a outros seres humanos”.

Para fazer o prato, pegue o fruto e misture com uma dose de “vingança do presidente absurdamente corrupto da Câmara” e deixe cozinhar em banho maria por alguns meses, enquanto vai adicionando os seguintes ingredientes:

- O congresso mais corrupto e conservador de toda a história da República;
- Uma mídia concentrada, manipuladora, assustadoramente tendenciosa e extremamente desonesta;
- Uma oligarquia egoísta, gananciosa e hipócrita;
- Uma teia de organizações investigativas e jurídicas totalmente direcionadas e com fins políticos;
- Alguns quilos de mudanças repentinas de conceitos e entendimentos de órgãos de controle;
- Várias doses de mudanças repentinas em regras e prazos de votações na Câmara;
- Uma dose de complô para encerrar investigações judiciais e salvar o mandato do presidente da câmara;
- Total boicote a qualquer medida positiva de governo;
- Total desprezo pela democracia;
- E o mais importante dos ingredientes: o “jeitinho brasileiro”. Esse ingrediente é feito com a junção do “total desrespeito a jurisprudências e leis que impeçam que se chegue ao objetivo final” e de “interpretações fantasiosas e inéditas às leis e à Constituição” (atenção, esses dois últimos são muito parecidos, mas são realmente necessários os dois ingredientes para que o prato não desande).

Adicione a gosto altas doses de machismo, ódio, preconceito, manipulação, desinformação, complexo de vira-latas e mais algumas toneladas de hipocrisia.

Deixe cozinhar na panela, em fogo muito alto, por cerca de 1 ano.

Atenção: nessa fase pode parecer que o prato não está bonito, mas a ideia desse prato é essa mesma, ou seja, quanto pior, melhor.

Para estabilizar a mistura e não estragar o prato, devemos colocar “aumentos salariais generosos” e “vergonhosa conivência do Supremo ”. Esses dois ingredientes geralmente são adquiridos juntos, na mesma embalagem.

Pronto. Desligue o fogo e o prato está pronto para servir, mas muita atenção, esse prato nunca pode ser servido sozinho, é sempre acompanhado de “ataque aos direitos trabalhistas”, "ataque à Previdência",  “fome”, “miséria”, “injustiça social”,  “sucateamento da saúde e educação”, “desmonte da máquina pública”, “desamparo à população de baixa renda”, “intervenção no judiciário”, “impunidade”, “entrega do patrimônio nacional”, “subserviência”, “fim da soberania nacional”, “imensas reservas para superavit primário agradando aos velhos especuladores abutres” e, lógico, muita pizza.

Detalhes importantes:
Eu utilizei a nomenclatura internacional para o prato, que é conhecido dessa forma em todos os locais civilizados do planeta, sem exceção. Entretanto, especificamente aqui no Brasil, em alguns locais, como nos jornais e revistas da grande mídia, é apresentado com outro nome.

Outro detalhe importante é que o prato é extremamente amargo para a gigantesca maioria das pessoas, mas, ainda assim, é realmente apreciado por alguns.

BOM APETITE!!!!
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CHARGE PUBLICADA NO THE NEW YORK TIMES EM 26/08/2016


Karl Marx

A assinatura da farsa: O próprio senado ficou com vergonha de condenar uma pessoa que não cometeu crime e, embora a lei seja muito clara e diz que quem sofre impeachment deve perder os direitos políticos por 8 anos, foi feita uma votação em separado e não foram retirados os direitos políticos da Presidente Dilma.