Como
ultimamente no Brasil voltou à moda o envio de cartas, vou deixar “vazar” a
minha também, endereçada ao “músico e ator” Fábio Corrêa Ayrosa Galvão, o popular Fábio Júnior.
Caro
Fábio;
Nesta
semana percebi um outdoor na cidade em que moro anunciando uma apresentação
sua, em um evento com apoio do Ministério da Cultura. Reagi com muita tristeza
e certa indignação.
Como
pode um artista, depois dos xingamentos proferidos com palavras de baixíssimo
calão, dirigidas à maior chefe de estado do seu país em uma apresentação na
cidade de Miami, ser convidado para participar novamente de um evento apoiado
pelo Governo Federal?
Em
relação à sua atitude, na ocasião, me causou repulsa, nojo, mas de forma alguma
surpresa, uma vez que a sua atitude é exatamente o que se espera de um artista
absolutamente medíocre, que criou fama a partir de uma imagem fabricada e vendida
pela televisão, tanto é verdade que agora que a grande mídia percebeu que sua
imagem não atende mais aos pobres parâmetros criados por eles, criaram um
artista a partir da imagem do seu filho, também músico, com as mesmas
características fabricadas em ti há muitos anos. Aliás, a criatividade e
evolução da nossa grande mídia chega a ser comovente.
Um
artista de verdade sabe de sua responsabilidade e de sua influência nas
pessoas, e pode sem problemas usar isso para criticar figuras públicas, mas o
xingamento e agressões gratuitas só demonstram falta de educação, falta de
respeito, ignorância ou simplesmente falta de caráter. Um artista de verdade
deve, especialmente no exterior, exaltar as coisas boas de seu país, aumentando
a estima de nosso povo, carimbando ainda mais nossa identidade cultural, nunca
deveria prejudicar propositalmente a nossa imagem e incentivar o velho e estúpido
complexo de vira-latas que assola parte da nossa população.
Mas
você sabe que certamente nunca chegará aos pés de artistas como Tom Zé, Chico
Science, Zeca Baleiro, Chico César, Fred Zero Quatro, Gilberto Gil, Luís
Gonzaga, enfim, poderia citar muitos e muitos outros, mas fiz questão de citar
apenas alguns artistas da região nordeste brasileira, para fazer uma pequena
analogia:
O
Nordeste do Brasil é a região mais ignorada pela nossa grande mídia. É lembrada
por 3 dias no ano nos jornais durante o Carnaval e esquecida ou depreciada nos
outros 362 dias. Em contrapartida, é a região do Brasil onde se encontra grande
parte da nossa diversidade social, dos nossos valores humanos, da nossa arte,
do nosso ritmo, das nossas belezas naturais, da nossa história, da riquíssima
cultura brasileira. Infelizmente, nossa grande mídia sempre teve vocação
entreguista e colonialista, por isso se esforça diariamente para esconder do
nosso povo toda a beleza do Brasil, para enterrar qualquer espírito
nacionalista que possa haver em nossas pessoas e para depreciar o nosso país,
por isso a cada dia ouvimos que no Brasil nada funciona, que se isso fosse na
Europa funcionaria... que se fosse nos Estados Unidos seria diferente... mas
aqui é o Brasil..., enfim, os poucos donos da nossa grande mídia odeiam o
Brasil, e por isso escondem o Brasil dos brasileiros, por isso que enterram
qualquer menção às milhares de coisas boas que temos no Brasil, qualquer coisa
genuinamente brasileira que funcione, seja pública ou não.
Imagino
que tua sensação e tuas motivações devam ser parecidas com as da nossa grande
mídia, com a qual sua história é intimamente ligada. Se as pessoas realmente
conhecerem o Brasil e os nossos excepcionais artistas, podem perceber que a
imagem que receberam da televisão a seu respeito desde que você começou a
cantar na década de 70 (músicas em inglês, logicamente) não é exatamente
correta. Podem perceber o quanto medíocre você é como cantor e como compositor,
e nesse caso obviamente sua carreira não se sustentaria.
Gostaria,
de coração, que sua apresentação aqui estivesse completamente vazia, mas
infelizmente sei que isso não acontecerá, porque o poder da nossa grande mídia
na criação de ídolos é muito grande, porque só dessa forma seria possível que
um músico absolutamente comum e que nunca acrescentou nada na riquíssima música
popular brasileira, pudesse ter a fama que você teve.
Respeitosamente;
Daniel
Rech